Mulheres Possíveis

quarta-feira, fevereiro 23, 2011Alê

 Texto na Revista do Jornal O Globo


 'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.
Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho  meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que  desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vid interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou  pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.
Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir.
Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo
Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida  interessante'.
  

Martha Medeiros - Jornalista e escritora


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8 comentários

  1. Oi Alê!
    Muito legal o texto amiga, gostei.
    Acho que vou fazer as unhas e uma escova essa semana...rsrsrsrs.
    Beijinhos.

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  2. Pefeito... diz tudo para todas.
    Beatriz (vidadamami.blogspot)

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  3. Amei. Principalmente a parte de esquecer a cara lavada! hahaha

    Ana Amaral
    (maedevenus.blogspot.com)

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  4. Esse texto diz tudo. Nem é preciso acrescentar nada.
    Nós mulheres, todas nós, nos encontramos nele com certeza.
    Eu sempre disse aqui em casa: EU NÃO SOU PERFEITA!
    Sempre fiz questão de ser eu mesma sem esconder meus defeitos e principalmente de dizer que nem sempre dou conta de tudo.
    Meus filhos cresceram sabendo disso.
    Pensava que se fosse perfeita aos olhos deles, seria muito mais difícil para eles serem mais perfeitos ainda e pior....NÃO ERRAR.
    Então sempre pedi desculpas se estava errada e sempre fui eu mesma. CORRENDO, SENDO UMA MULHER COM MIL E UMA ATRIBUIÇÕES, MAS SENDO EU.
    Parabéns pelo post.
    Cris Chabes

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  5. Amei!!!! Edificante ver uma reportagem assim, eu tbm não sou a Sra perfeita, mas é uma cobrança geral.... mas o que importa é ser feliz!

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  6. Muito bom isso. Já vou transformar em papel de parede pra ler todo santo dia.

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  7. uhuuuuuuuuuuuu e viva as mulheres

    kkkkkkkkkkkkkk
    ameiiiiiiiiiiiiiiiii

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