Post escrito por Beatriz Zogaib, do blog Vida da Mami
Quando não se tem filhos, exemplo nada mais é do que algo que serve para expressar ou mostrar algo, seja ele certo ou errado. Nada demais. Quando nascem os filhos, a palavra ganha um peso que dói nas costas. Exemplo ganha obrigatoriamente a carga positiva, tendo sempre que retratar coisas boas. E nem é preciso exemplificar que o pai e a mãe se sentem as pessoas mais responsáveis por dar exemplo.
Nossos pais sempre foram nossos exemplos, ainda que às vezes tenham sido daquilo que não queriam. Mas são. E, salvo exceções, sempre se preocuparam em ser. Quem sai da maternidade com um bebê no colo sente que a partir daquele momento é mais do que uma pessoa no mundo, é a pessoa do mundo daquele pequeno e indefeso ser. Eu senti mais que isso. Quando estava no carro, com meu marido e meu neném no colo indo para casa, com o carro da minha mãe seguindo ao lado, olhei para ela, para meu menino, para mim mesma e tive a certeza que ali eu havia entendido o que meus pais sentem por mim. Quanto eu significo, desde aquele instante, para ambos. Filhos chegam logo nos jogando na cara absolutamente tudo que vivemos lá atrás. Nos esfregam na face todo o amor que recebemos, todos os não que não entendemos, tudo que fica complicadíssimo compreender sem estar do outro lado da narrativa.
Passamos a carregar a vontade e necessidade de ser exemplar. Temos que ser, que dar, que mostrar. Até aí, é relativamente fácil. Torna-se algo natural, espontâneo e até produtivo, quando se escolhe isso. Escova-se mais os dentes, a alimentação tende a melhorar, falta de organização torna-se arma contra nós mesmos, consciência ambiental e social vira parte da rotina diária até na hora de inventar uma historinha. Difícil é controlar outros exemplos, que vem de fora. Isso é impossível! Filhos crescem e vão para a rua, conhecem gente de todo o tipo, lidam com os mais variados exemplos, em todo o lugar, inclusive no quarto, pela tela da TV ou do computador. Então, lá vem aquela velha história de que o importante é o que fazemos dentro de casa, a "base" que damos, os valores que passamos, a educação e a relação construída com todo o nosso amor e dedicação. Resolvido? Nem pensar.
O que foi ensinado ajuda muito, mas só o tempo vai mostrar se o resultado será o esperado. Erramos, mesmo sem querer. Porque mesmo acertando podemos gerar uma reação contrária. Porque damos exemplos nem tão certos e até bem errados sem perceber. É tão natural e espontâneo quanto tentar ser o espelho bom o tempo todo. E, se algum erro vai resultar no erro deles, isso é pergunta para o tarô. Ai daquele que acertar!
Contra toda essa responsabilidade e seriedade que nos é dada quando deixamos de ser filhos para sermos pais, vem toda a naturalidade de uma vida que surpreende, ensina, alegra, derruba, levanta, guia e se deixa guiar. Penso que dar exemplo é fundamental. Bons e até os ruins. Quando filhos crescem, usam o que é positivo como norte e o negativo como sul. Buscam o que acham exemplar, fogem daquilo que não acham. Mesmo quando o pai e a mãe tem a certeza que estão acertando, na visão do filhinho crescido, podem estar muito enganados e tudo ao contrário também. A boa notícia para filhos é essa: que, quando adultos, usamos o que queremos e o que se adéqua à nossa vida e jogamos fora o que não se encaixa. A boa notícia para pais é que a parte de jogar fora não é assim tão simples...
Todo o nosso esforço na maternidade e paternidade é de muito valor. É extenuante em certos momentos, mas ao longo dos anos percebe-se que vale cada gota de suor, cada noite sem dormir, cada livro lido, cada conversa com comadre. Vale toda a preocupação e exigência, com eles e conosco. Porque a base deve ser sólida para que quando estiverem sobre ela, as "crianças" não escorreguem. E mais que isso. Para que a palavra exemplo não se torne sinônimo de ídolo. Pois todo ídolo deve ser exemplo, mas nem todo exemplo deve ser ídolo.
Pode gostar de reality show e torcer para o participante mais fútil por pura empatia. Pode ouvir músicas da banda cheia de cantores que usam calças coloridas. Pode ficar na rede de relacionamento sem dar um pio que preste. Pode ter a maior diversidade de amigos. Mas não pode idolatrar tudo. Pode e deve respeitar sempre, sem pré nem pós-conceito, mas não pode seguir exemplo que não mereça ser seguido. Não precisa apontar o dedo para o que é certo e errado (conceitos que mudam de endereço), mas analisar criticamente, com tudo aquilo que foi aprendido com a família e com a sua trajetória, com o coração e a razão. Pensar crítico não é ser crítico. É escolher seu caminho sem obstruir o caminho do outro.
O que não pode é o filho carregar a rigidez e exigência imposta por nós, pais, pela vida toda. Se nós pudemos errar como filhos e podemos como pais, porque não eles? A perfeição é imperfeita. E cada dia que passa só provam e comprovam como somatizamos tanta busca por ela. Ninguém é perfeito e exigir isso de quem quer que seja, incluindo de si próprio, não deve levar muito longe, visto que um passo dado não pode nos impedir de voltar atrás. A única verdade da vida perece ser a vida. E, se tem outra, é que, em determinado momento, todo ídolo perde a graça...
*Beatriz é jornalista, mãe 24hs, colaboradora assídua aqui no Recanto. Muito obrigada amiga, seus textos são sempre muito bem vindos!
Assim como a Beatriz, você também pode participar deste cantinho como colaboradora, envie seu email para recantodasmamaes@yahoo.com.br
Equipe do Recanto
1 comentários
Olá Beatriz!
ResponderExcluirÉ um desafio a ser enfrentado.
Fazemos o nosso melhor, para que os nossos filhos tenham uma boa base, mas assim como os nossos pais também erramos. Não somos perfeitos como mencionastes.
Que Deus nos ajude e nos dê sabedoria para sabermos compreendê-los a cada dia. Que eles encontrem em nós sempre um aconchego, um abraço, a compreensão que necessitam.
Eu encontrei isso nos meus pais, apezar de todas as suas falhas e das minhas.
Obrigado Senhor pelos pais que eu tive!!!
Um beijo querida e que Deus nos abençoe a todos!
Obrigado por comentar, ficamos felizes!