Avós Colaboradora

Pais e avós: a importância de limites nessa relação

domingo, março 20, 2011Chris Ferreira

Post escrito por Edjane, do blog Conversinha de Mãe


Na vida corrida que nós mães “modernas” temos, com quem deixar os filhos é um dilema. Isso é fato. Creche, hotelzinho, babá ou a vovó? Esse é um questionamento que todas nós temos e que começa a nos perturbar quando nossos rebentos ainda estão na barriga. No mundo de hoje, às vezes é tão dificil encontrar uma pessoa a quem confiar nosso bem mais precioso. Em outros casos, a questão é financeira mesmo e a pessoa não tem condições de deixar seu bebê ou criança seja com babá ou em creche.

Quem tem mãe (ou sogra) acaba recorrendo a ela para ajudar os pequenos. Este é o meu caso e de várias amigas. Eu nunca tive coragem (e confiança) de pensar em deixar minha Beatriz com uma pessoa estranha. Fico feliz quando alguma amiga tem uma pessoa que cuida direito de seus filhos, com carinho mesmo. Mas sou muito desconfiada. E como minha mãe sempre se dispôs a ficar com os netos (hoje são quatro, com os filhos dos meus irmãos), então ela foi ficando.

Quando Bia ainda não ia para a escola, mainha (sim, ainda chamo ela assim) ficava com ela em tempo integral, enquanto eu e Alex trabalhávamos. Agora, fica com ela durante as tardes, quando ela chega da escola. Alguns dias da semana ela fica com minha sogra, que dá uma mãozinha (ou melhor, uma mãozona) também. Graças a Deus, tenho uma relação tranquila com as duas, tipo cada um procurando respeitar o seu espaço. Mas a gente sabe que nem sempre é assim.
Por isso, o Conversinha de Mãe conversou com a psicóloga Edel Ferreira sobre essa relação pais e avós na criação dos filhos, sobre qual o papel de cada um. Trago pra vocês um pouquinho desse papo. Espero que o post possa ajudar alguma de vocês, queridas. A primeira coisa que ela deixa claro para que essa conviência seja harmoniosa é lembrar que os avós NÃO são responsáveis pela criação dos filhos dos seus filhos.

Nessa história, ela avalia que há dois lados: o dos avós que acham que os filhos não estão preparados para criar os seus próprios filhos e aí eles tentam “poupá-los do trabalho árduo” e da responsabilidade de criar as crianças e também o lado dos filhos, que sem experiência e maturidade para se assumirem como pais acabam delegando essa função para os avós.

Segundo Edel, no primeiro caso, percebe-se que há uma infantilização dos pais, como se os avós não reconhecessem neles o amadurecimento que, ao menos teoricamente, deveriam ter atingido. “Percebe-se, ainda, que há uma vontade dos avós em serem ‘pais’ novamente, com o propósito muitas vezes inconsciente de terem uma nova chance de ‘não errar’ ou corrigir algum erro que imaginam ter cometido ao criarem os próprios filhos; ou para ‘evitar’ que os filhos criem os seus netos de uma forma que não consideram correta; ou ainda numa tentativa de resgatarem em si mesmos a fase de juventude na época em que eram pais”, disse.

Já no segundo caso a psicóloga disse que se demonstra a falta de experiência e maturidade dos pais que, embora adultos o suficiente para decidirem procriar, não se sentem em condições, sejam físicas, emocionais, financeiras, temporais ou ambientais, de criarem os próprios filhos. “Há momentos em que se pode entrar em consenso e a ajuda mútua é bem-vinda. Mas não se pode obrigar os avós – nem mesmo quando eles insistem nisso! – a ficarem com os filhos do casal, pois os avós não têm mais a mesma energia que tinham na época em que procriaram”, afirmou Edel.


Ela observou que a idade, quanto mais avançada (mesmo que com grande qualidade de vida, como se tem hoje em dia), mais exige dos indivíduos. Além disso, ela ressalta que os avós, nessa fase da vida, precisam tomar conta de si mesmos, cuidar mais da saúde, se libertar das obrigações e passar a dar mais espaço ao lazer (que antes não era possível). A psicóloga disse que essa fase da vida deve ser de liberdade, o que não pode ser confundido com o sedentarismo. “Em nome de ‘não se tornar sedentário, muitas vezes os avós se impõem a tarefa de tomar conta dos netos, da casa dos filhos, dos filhos. E, se algo sai errado, o sofrimento emocional dos avós é imensamente maior, podendo ter sérias consequências emocionais, muitas vezes irremediáveis”, alertou.

Consequências
No entanto, a psicóloga ressalta que essas consequências não atingem apenas os avós. Filhos e netos também acabam penalizados: os filhos, por perderem, de certo modo, a ascendência sobre seus próprios filhos (os netos); e os netos, por se apegarem demasiadamente aos avós, substituindo o afeto deles pelo dos pais, o que faz com que admirem e respeitem muito mais os avós e enfraqueçam os vínculos afetivos e de respeito aos pais.

Então, gente, o ideal é manter o relacionamento entre avós, pais e filhos no lugar certo. “Pais cuidam de seus filhos do mesmo modo que foram cuidados por seus pais! Os netos visitam os avós, estabelecendo com eles vínculos de amor, admiração e respeito, sem que isso signifique que são responsabilidade dos avós. Pais criam seus filhos, assumindo a responsabilidade à qual se destinaram ao decidirem ter filhos. E, eventualmente, quando for necessário, os pais recorrem à ajuda dos seus pais, reconhecendo o favor e agradecendo com compreensão, respeito e afeto”, Edel Ferreira dá a dica.

Atritos
E muitas vezes, quando os avós não dão muita atenção aos netos, acaba se criando um certo desconforto entre os pais. Às vezes alguns pais se queixam de avós que não são tão carinhosos ou que alguns deles (sejam paternos ou maternos) não se sintam tão à vontade para colaborar tanto nessa relação. Segundo a psicóloga, muitas vezes a relação dos avós com os netos reflete a relação dos pais com seus filhos. Ou seja: quando avós paternos não são carinhosos com os netos, provavelmente é porque há um conflito entre eles e a mãe das crianças – ou porque não admitiam que o filho casasse com ela, ou porque se acham “inferiorizados” e “traídos”, por terem sido “trocados” por uma mulher “estranha” que “tirou” o filho deles de casa. 

No entanto, ela ressalta que isso não é regra e pode, sim, acontecer com os avós maternos. O que acontece na maioria dos casos, destacou a psicóloga, é que a filha (mãe, portanto aquela que normalmente responde pelo cuidado com os filhos em uma sociedade machista), por ter uma relação muito mais intensa com a própria mãe (avó), prefere confiar seus filhos aos cuidados de sua mãe do que da sogra, que conheceu somente em uma fase mais recente de sua vida. “Essa relação de confiança se expande aos filhos (netos) durante a convivência, desde a mais tenra infância e é refletida pelos avós que, sentindo-se ‘deixados de lado’, acabam por lidarem com os netos do mesmo jeito”.

De qualquer forma, não custa lembrar que limites são importantes em qualquer situação. Na relação entre pais, filhos e netos, não podia ser diferente. É importante deixar claro quem tem autoridade e que tipo de autoridade cada um tem. “Sim, porque os avós devem ter autoridade dentro de sua própria casa, especialmente quando seus netos são deixados sob seus cuidados; mas os pais nunca devem delegar a sua autoridade aos avós, sob pena de perderem o respeito dos filhos”, disse Edel. 

O fato de terem avós mais permissivos, por exemplo, contribui muito para a revolta dos netos ao retornarem para casa e depararem com pais mais rígidos. Mas a psicóloga observou que isso não significa que os pais devam “amolecer” para conquistar os filhos, mas, sim, que o diálogo seja estabelecido e que se explique muito claramente à criança que espaços diferentes têm regras diferentes sem que isso signifique mais ou menos amor. Tudo o que a criança precisa é da orientação centrada e objetiva dos pais. Fazendo isso, os pais evitarão inúmeros conflitos!

Então, gostaram das dicas da psicóloga Edel Ferreira? Comentem sobre o que acharam e se tem alguma observaçao sobre alguma situação que tenha vivido a esse respeito. Eu mesmo já vou começar a amadurecer a ideia – e começar a buscar estratégias – de como tirar essa “carga” dos ombros da minha mãe e sogra. Não sei como ainda, mas... Ah, e se quiser sugerir algum tema para a gente abordar aqui no Conversinha de Mãe é só mandar para o email conversinhademae@gmail.com.

Beijos

@conversinhadmae

*Edjane Oliveira, mãe de Beatriz. Jornalista formada há sete anos, atualmente repórter do Jornal da Cidade e da Agência Alese de Notícias.

Assim como a Edjane, você também pode participar deste cantinho como colaboradora, envie seu email para recantodasmamaes@yahoo.com.br

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3 comentários

  1. Adorei! Vai me ajudar muito!
    Vou dar um jeito da minha mãe e sogra lerem isso também.

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  2. Oi Edjane!
    Muito legal a sua contribuição aqui no Recanto com esse assunto.
    Meus pais já faleceram e mal curtiram a netinha e meus sogros moram em outra cidade, então não passei por isso. Mas a minha mãe cuidou dos meus sobrinhos e ela acabava sendo muito permissiva. Eles sofreram demais quando ela faleceu, também quando o meu pai, pois o vô era o confidente deles, acredita? Até a minha sobrinha confiava nele para contar vários segredos.
    Um beijo e uma ótima semana.

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  3. Oi Edjane,
    Eu vejo isso na minha família, quando minha tia se separou do marido e se viu na responsabiliade de "criar" os filhos sozinha e trabalhar fora, como ela morava com a sua mãe (minha avó) deixou meu priminho que na época não tinha nem 1 aninho aos cuidados da minha avó, que cuidou muitooooo dele correu com ele em médicos qd ele teve um problema sério de saúde, enfim...E o que ocorre hoje, ele é adolescente e minha tia casou-se novamente, minha avó se acha no direito de interferir na educação dele, criticando repreensões, protegendo qd na verdade ele precisa de uma correção....enfim, o que causa um desconforto familiar. Por isso acho que os avós são para "paparicar" e curtir os netos, e só.
    Bjosssssssss, gostei muito do texto.

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