Colaboradora Mordidas

Mordidas

quarta-feira, setembro 14, 2011Chris Ferreira



Texto da Irene, do Blog do Davi


Hoje a mamãe foi me visitar na escola na hora do almoço. Aí a tia Luana, minha professora do Maternal II, comentou que eu estou mordendo muito. Vamos ver o que a mamãe refletiu sobre isso:
Pois é, quando eu achei que essa fase tinha passado, ela retorna com toda a força! Quase todos os dias estou recebendo bilhetinhos na agenda: 

'O Davi mordeu um coleguinha'. 'O Davi mordeu um coleguinha nas costas. Peço que converse com ele'. 
Conversar o quê? Então fui almoçar com a coordenadora pedagógica da creche, que me disse o seguinte: 
"Não tem o que fazer, é preciso deixar passar essa fase. Mas todas as vezes em que ele tentar morder alguém, diga que é feio, que faz dodói e que a mamãe fica triste. E mude de assunto. Criança não presta atenção em dircursos muito longos".

Como sei que esse é um problema que angustia muitas mães, resolvi procurar algum post na imensa lista de blogs sobre maternidade que sigo e fiquei surpresa por não achar nenhuma linha sobre o assunto. Então resolvi eu mesma buscar alguma explicação e compartilhar esse assunto tão delicado com as leitoras do Blog do Davi

Encontrei alguns especialistas falando sobre o tema e, abaixo, separei o que achei de mais interessante:

O QUE É A MORDIDA?
"A fase oral é dividida em duas etapas, a de sucção e a de mordida. Na fase da mordida há uma tendência a destruir, morder, triturar o objeto antes de incorporá-lo. Essa fase é dividida em duas características principais, sendo oral receptiva, quando o sujeito não passa por privações, tornando-se uma pessoa muito generosa e oral agressiva que aparece uma tendência a odiar e destruir, a ter ciúmes da atenção que outros recebem, a nunca estar satisfeito com o que tem e a desejar que os outros não tenham algumas coisas, mesmo que não as queira para si. É como se a pessoa quisesse se vingar das frustrações que o período de amamentação lhe causou". 

(Flávio Fortes D'Andrea, professor de Psicologia Médica)

"As crianças estão em fase de amadurecimento e consequentemente estão aprendendo a exteriorizar suas angústias; medos, frustrações, anseios e descobertas. Através do sistema nervoso central começam a elaborar o tato, o olfato, o paladar, a visão, e a audição. Consequentemente com as novas descobertas aprendem a usar as mãos, os dentes, como instrumentos de defesa".(Albertina Chraim, psicopedagoga)

"A mordida faz parte dos mecanismos de defesas mais primitivos do homem".(Albertina Chraim, psicopedagoga)

EM QUE FASE ELA COSTUMA OCORRER?
"Em primeiro lugar, é importante que se saiba que esse comportamento de morder faz parte do desenvolvimento, é normal até os três anos de idade e passa quando a criança adquire novas habilidades". (Danielle Dittmer, psicóloga) 

POR QUE A CRIANÇA MORDE? 
"A maior parte das crianças morde para se comunicar, pois ainda tem limitações de vocabulário ou lentidão na articulação das palavras". (Helena Samara, dona de escola infantil)

"Muitas vezes, crianças que mordem na escola são crianças mais possessivas que querem atenção exclusiva, filhos únicos, filhos de pais que estão em processo de separação, ou ainda crianças que estão com irmãozinhos recém-nascidos em casa. De alguma forma ele precisa extravasar suas angustias e ansiedades".(Albertina Chraim, psicopedagoga)

"Morder também pode ser uma maneira da criança lidar com sua ansiedade, já que ainda não consegue organizar e compreender direito suas emoções, ela descarrega o ciúmes, a insegurança na mordida". (Danielle Dittmer, psicóloga)

"As mordidas acontecem em situações de disputa por brinquedos ou quando entra uma criança nova no grupo, causando emoções como insegurança, medo da perda ou ciúmes do novato, já que a professora está com a atenção mais voltada para o mesmo. Como não consegue administrar seus sentimentos, manifesta o incômodo através da mordida". (Jussara de Barros, pedagoga)
"É comum a vítima ser o melhor amigo. Elas mordem para se apropriar do que o outro tem de interessante".  (Gisele Jardim, presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade Paulista de Pediatria)

O QUE OS PAIS DEVEM FAZER?
"É preciso ter calma quando acontece este comportamento, conversar com a criança, mostrar que dói. Com o tempo, conforme a criança vai aprendendo a se comunicar melhor através da linguagem, começa a trocar as mordidas pelas palavras, conseguindo aos poucos, organizar e expressar seus sentimentos e insatisfações de outra forma". (Danielle Dittmer, psicóloga)

"Não brigue com a criança, mas seja firme. Explique que ninguém gosta de sentir dor e peça ajuda para curar o machucado do colega. Descubra o que motivou o comportamento e mostre outras formas de expressão". (Revista Escola)

O QUE OS PAIS NÃO DEVEM FAZER?
"Cabem aos pais, professores, não supervalorizarem a mordida em si, e sim as causas que levaram uma criança a morder, e a outra a permitir ser mordida". (Albertina Chraim, psicopedagoga)

O QUE A ESCOLA DEVE FAZER?
"O professor precisa perceber qual sentimento está em jogo para agir sem drama". (Denise Argolo Estill, psicopedagoga)

"Peço à criança que mordeu que ajude a massagear a outra, a pôr gelo no ferimento. O colega mordido vai se sentindo melhor até parar de chorar". (Elsie Clarie Canelas, professora)

"Um trabalho em grupo, com argila, onde se trabalha a função da boca, dos dentes, da língua, da saliva, dos lábios, etc., acaba sendo um instrumento pedagógico bastante eficaz". (Albertina Chraim, psicopedagoga)

"Seja qual for a causa, é importante não taxar a criança de mordedora, porque isso vai gerar a expectativa de que ela volte a morder, o que pode realmente levar a mais mordidas. O melhor é tratar o fato com tranquilidade, e mostrar à criança que o que ela faz provoca dor, machuca. E, além disso, ensinar que existem outras formas de expressar seus sentimentos". 
(Ana Maria Melo e Telma Vitória, autoras do texto "Morididas: agressividade ou aprendizagem?") 

Compreender essas questões ajuda muito. Mas, ainda assim, o desafio permanece.

Meu mordedor (de calça amarela),
tirando uma soneca após o almoço
* A Irene é jornalista, blogueira e mamãe do Davi.


Irene, obrigada por colaborar com esse trabalho de pesquisa.
Beijos,
Equipe Recanto

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10 comentários

  1. Tá vendo, nem uma linha achada e que post bem escrito por vc mesma!!! Amei... Cris

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  2. semana passada, meu JP chegou com menos um pedaço da bochecha...hahaha..agora estou rindo, mas não é mole controlar a raiva.
    Fiquei pensando que ele poderia ter mordido o coleguinha do mesmo modo e que, por isso, precisava me acalmar...
    Mas, vamos confessar: dá uma raiva........
    Mas é assim mesmo, como diz o post, o importante é não super valorizar!

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  3. Post muito legal...
    Que fase difícil...
    Beijos
    Carol

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  4. Amigas do Recanto, obrigada por divulgarem o post! Acho esse assunto super importante e, como mãe de um mordedor, penso que é importante que as mães dos mordidos saibam que a nossa posição também não é nada fácil. Beijos a todas, e visitem o Blog do Davi!

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  5. Que ótimo abordar esse assunto. Esses dias ainda estava lendo num blog, uma mãe desesperada, sem saber o que fazer pro filhote parar de morder os coleguinhas. Não é fácil mesmo, mas com paciência e trabalho as coisas se ajeitam.
    Beijinhos e obrigado por compartilhar.

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  6. Imagino o quanto é difícil a mãe do "mordedor", mas a questão não pode ser banalizada.
    Meu filho tem sido muito mordido na escola e os pais simplesmente encaram isso como normal, uma fase e não se empenham muito por mostrarem aos filhos que não está correto.

    É muito triste ver seu filho chegar com uma ferida enorme na bochecha, que leva dias para cicatrizar (e isso não é exagero) e ter que explicar para ele, que não é porque ele tem sido mordido que pode revidar.

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  7. Oi, postei exatamente isso no meu blog porque tb estamos passando intensamente por essa fase...fiquei nervosa, chorei, me senti culpada, mas agora estou mais tranquila, entendi que é uma fase e que vai passar...
    abraço
    http://soumaepravaler.blogspot.com/

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  8. Amiga, precisei dar Nan p/ minha pequena quando falta uma semana p/ ela completar um mês, dei Nan até 1 aninho e depois fui mudando de leite, hoje com 02 anos ela já toma de caixinha e come de tudo.
    Com um mês de nascida minha princesa não pegava peso, meu leite não era fraco mas não era suficiente p/ sustentá-la então fui obrigada a dar Nan e só assim ela pegou peso, fui dando Nan e peito até os 06 meses, ela largou o peito sozinha, por mim amamentava até os 02 anos, mas ela largou cedo.
    O importante é a criança estar de barriga cheia, é isso que vale amiga.
    As coisas nem sempre saem como queremos, então o jeito é se virar como dá, no final tudo dá certo.
    Bjos e Deus te abençoe sempre!!!

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  9. Minha filha também andou mordendo a melhor amiga e o melhor amigo. Ela tem dois anos e está no Maternal II desde fevereiro...
    Quando pedi explicação sobre a mordida, ela respondeu: "fulana é tão fofinha" e percebi que ela estava imitindo uma tia, que sempre que encontrava com ela, dava-lhe uma mordidinha na bochecha e dizia: "mas você é tão fofinha". Conversei com ela, a tia, e pedi para que não fizesse mais, porque Luna fazia o mesmo nos amigos da escola!
    Por enquanto estou 4 meses sem notícias de mordidas!!!

    Beijão.

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  10. Olha que curioso, sempre esquecemos desse momento na infância.
    Valeu a ideia de escrever esse post pois serve para que muitas mamães saibam que isso é normal e passa.
    Espero que o Davi cresça com saúde e feliz
    Beijocas
    Cris Chabes

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