Colaboradora Reflexão

Moda Infantil = pasteurização?

quarta-feira, março 02, 2011Chris Ferreira

como ser criança vestida assim o tempo todo?
Post escrito por Ingrid, do blog Desconstruindo a Mãe

“E quantos uniformes ainda vou usar?/ E quantas frases feitas vão me explicar?” (Kid Abelha)

Quando me vejo envolvida com vestir as crianças, me vejo sempre diante de algo que nunca foi dilema pra mim, mas que exerce pressão sobre meus filhos: a moda.
As roupas infantis nitidamente se inspiram em coleções de estilistas que se dirigem para adultos em suas produções. Mas o que fica de positivo para a indústria têxtil voltada para crianças?
Encontramos variedades de cores, de modelos, de lojas, mas cada vez mais vejo as confecções chegando a um lugar comum: transformar as crianças em mini-adolescentes ou mini-adultos. E isso me incomoda.
De modo geral, a nossa sociedade valoriza a adolescência. Vemos adultos adolescendo. Vestindo-se, usando cosméticos e fazendo tratamentos para rejuvenescer. Ter experiência não é visto como vantagem competitiva. Por outro lado, ser criança não é mais como outrora. É um bombardeio de comerciais dizendo que a menina tem de ter os brinquedos tais, usar os calçadinhos mais modernos, usar as roupinhas descoladas que ficam parecidas com as da irmã mais velha, a prima ou mesmo a mamãe. – E quem não quer ficar parecida com a mamãe quando o relacionamento é saudável?!
Os meninos, por sua vez, encontram meia dúzia de modelos, que não variam muito, geralmente bermudões, calças cargo, camisetas com heróis e personagens  de desenhos mais conhecidos nos canais de televisão e as cores são azul, verde, cinza, vermelho, preto e branco. Ficam relegados a um pequeno espaço diante do mundo lilás e cor de rosa disponível para as guriazinhas.
Mas aí, pergunto a você, amiga, que sempre lê nas capas de revista que o legal é ser original e ter o próprio estilo, onde está a criatividade que procuramos quando percebemos que andamos todos uniformizados em vestimenta e comportamentos?
As meninas não desejam mais serem crianças; identificam-se com o que é conhecido por pré-adolescência, assistir programas direcionados a esse público e repetem comportamentos que nem sempre estão preparadas para lidar, porque têm conseqüências.
Não, esse não tem a intenção de ser um texto moralista. Na verdade, vejo que não estou só quando digo que quero que meus filhos sejam crianças enquanto puderem aproveitar o que a infância tem a oferecer para, então, viver a outra fase no momento em que tiverem maturidade pra isso. Os corpos que pretendemos que aproveitem as roupitchas são diferentes dos nossos. São corpos que se movimentam subindo e descendo de árvores, escorregadores, trepa-trepas, que pulam corda e brincam de pique-esconde, de polícia e ladrão  numa época em que ser policial anda tão desvalorizado... E que praticam esportes (!) apesar de todos os apelos dos aparelhos eletrônicos precisam de espaço e conforto.

E as roupas refletem esse momento! Os desenhos, o colorido, o conforto, precisam estar na mente de quem produz materiais para esses consumidores. Sim, há ocasiões mais formais. Mas não desejo que minha filha aos 7 anos use saltinhos prejudicando sua coluna, ainda mais do jeito que é estabanada, tropeça, corre, pula, dança o dia inteiro. Nem que ela use decotes e tente se adequar a roupas que são para outros corpos, não os infantis.
Esses desconfortos nem eu mesma consigo mais me submeter a eles... Acho que é possível estar bem vestida de acordo com a minha idade (afinal, não desejo concorrer com a Larissa), dentro do que a moda oferece e me faz sentir confortável e bonita. Da mesma forma creio que seja possível oferecer alternativas bem descoladas, animadas e que não destoem do momento que meus filhos vivem.
A pressão externa é forte, eu sei. Mas ter personalidade nas pequenas e grandes decisões do dia a dia poderá ter reflexos positivos sobre a personalidade de meus filhos.

*Ingrid é Bióloga, mestre em educação pela UFRGS, mãe da Larissa e do Caio, mamãe blogueira.

Assim como a Ingrid, você também pode participar deste cantinho como colaboradora, envie seu email para recantodasmamaes@yahoo.com.br

Equipe do Recanto

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3 comentários

  1. Gostei muito desta reflexão, eu também quero que o meu filho viva cada fase da vida dele, uma de cada vez e sem apressar as coisas.
    Parabéns pelo texto Ingrid, e obrigada por participar do Recanto, seja bem vinda sempre.
    beijinhos,
    Lauri

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  2. Muito legal! Não devemos nunca esquecer que crianças são crianças, e não mini adultos!
    Um abraço
    Paulo Lima
    www.incubandoideias.blogspot.com

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  3. Adorei seu texto e este eh um tema que tenho refletido ha algum tempo e agora ainda mais vivendo na Franca. Aqui a pressao da moda eh ainda mais forte e a exigenica de ter a mae e filho nas tendencias eh bem grande. Tentamos manter nossos pes no chao e priorizar o conforto de nosso Theo, de 11 meses. Abracos aos blogueiros ;o

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