trote universitário

Batismo dos Bichos? Trote assim não é legal!

terça-feira, fevereiro 04, 2014Cristina Chabes

O trote é proibidopor lei em SP
São 2 horas da manhã. Acordo com o som do telefone. Levanto assustada. Do outro lado da linha uma mulher pergunta:
- Por favor a senhora conhece o Paulo? (nome ficticio) 
- Sim....Ele é meu filho.
- Aqui é do pronto socorro, encontraram seu filho caído, desacordado, na estação do metrô.

Imediatamente pego a primeira roupa, mal penteio o cabelo e saio com o coração na mão, lágrimas nos olhos e um monte de interrogação sobre o que teria acontecido com meu filho. Ao chegar no PS encontro-o com as roupas rasgadas, descalço, cabelo raspado, cara pintada e em coma "Alcoólica". 
- O que aconteceu? Acorda filho!
- Senhora, ele não vai acordar agora - diz a enfermeira - um funcionário do metrô o encontrou desacordado na estação, chamou uma ambulância e o trouxeram pra cá. Conseguimos localiza-la, pois no celular que estava na mochila, havia 6 chamadas perdidas do mesmo número.

Quem não se lembra do primeiro dia de aula do filho, ainda no jardim da infância? 
Aquele dia memorável quando a criança nem tem tamanho para carregar a mochila, mas faz questão de pendurar nas costas? A mãe tira milhões de fotos e volta pra casa chorando de emoção. "Como ele cresceu!!!"
O tempo passa,  e logo a criança segue seus estudos pelo 1o. Ano, 2o. 4o. 6o......,e chega a primeira formatura ao final do 9o. ano. Quanta emoção! E quando termina o ensino médio e o filho começa a prestar vestibular, a emoção nos diz que agora chegou a hora dele seguir os próprios caminhos.  Aquele primeiro dia de aula no jardim da infância retorna com intensidade, e as lágrimas também.

Então chega o primeiro dia de aula na Universidade e......as 2 horas da manhã o telefone toca:
- Por favor a senhora conhece .......

Meu Deus, meu filho, aquele bebê recebido com tanto amor, criado com tanto cuidado, orientado a respeitar o próximo, a não se meter em encrencas, agora está ali inerte na cama de um hospital. Caio em prantos, em busca de uma palavra, uma resposta que explique o que aconteceu e sou socorrida pela mesma enfermeira que está cuidando dele.

Duas horas depois ele começa a despertar. Não me vê, não me reconhece. Sou orientada a levá-lo para casa e esperar que ele se recupere e explique o que aconteceu. Em casa, as 5 horas da manhã, ele chora e conta:

- Cheguei a faculdade e fui recebido por um grupo de alunos, que logo rasparam minha cabeça e pintaram meu rosto. Achei que tudo havia terminado, quando o grupo nos levou (eu e outros calouros) para o farol da esquina da faculdade e nos obrigou a pedir dinheiro no farol. Com o dinheiro em mãos fomos levados a um bar próximo e um coquetel de bebidas nos foi colocado na boca.
Veteranos e calouros da Uniara participam de trote em Araraquara (Foto: G1)
Reportagem do G1
- Mas por que você bebeu?
- Não tive escolha, alguns nos seguram, enquanto outros abrem a nossa boca e despejam a bebida. Não sei quanto bebi, nem como fiquei sem camiseta, mas cheguei a ver garotos vomitando e outros sendo carregados e jogados na calçada. 
- Como chegou ao metrô e como continuou com a mochila?
- Não me lembro? Sei que havia outros garotos desmaiados na saída do bar. É só disso que me lembro!

Toda essa narrativa não aconteceu com meus filhos, mas poderia ter acontecido. O filho de uma amiga, passou por tudo isso na última quarta feira , seu primeiro dia na faculdade. Assustado ele não voltou nos dias seguintes, mas sobreviveu ao que os veteranos chamam de "batismo dos bichos". 

Educação UOL
Na minha lógica, os bichos são os veteranos que tratam o semelhante como caça. Não querem nada além do prazer em prejudicar. Não se importam com as consequências e nem com a possibilidade de óbito (que pode ocorrer).

Na reportagem dessa foto, os veteranos atearam fogo no corpo do calouro, clique no link da foto para ler




Até quando essa barbárie vai continuar acontecendo em nosso país com nossos filhos? 
Que espetáculo é esse que acontece ano após ano, na frente de toda uma platéia inerte? Será que impera na humanidade a lei do "Se não é comigo, não dói? Não tenho nada haver com isso?" 
Gazeta do Povo

Existe tantas maneiras de comemorar esse momento tão importante. Li sobre casos de trote solidário (doação de alimentos, sangue, atividade física coletiva, etc..).  Também li sobre casos bizarros e nem quis compartilhar aqui para não chocar ainda mais. Lembre-se que seu filho ou filha que estão ai brincando no chão da sala um dia serão os calouros. Você vai ficar esperando ele chegar lá para compartilhar essa postagem?

Talvez hoje outros garotos e garotas passem por novas barbáries enquanto a sociedade não soltar um grito de basta. Muitos serão encontrados nas esquinas ou  nas estações, impedidos de seguir seus caminhos por escolha própria, tentando "sobreviver" nessa selva urbana.

Abçs
Cris Chabes

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11 comentários

  1. É inacreditável que nos dias de hoje trotes como esse ainda acontecem.
    Na minha época tive um bem mais light e como estudei em uma mega universidade, ficava até difícil identificar quem era calouro e veterano, então cheguei bem no estilo mineirinha querendo quase que me esconder.
    Bjks

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  2. Se antes de passar pela porta da universidade muitos atuam assim, imagine se não houvesse universidade... Basta de trote violento.

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  3. Sabe, ainda tenho meu filho no jardim de infância... mesmo assim esse texto me deixa mexida... Quando eu era criança, meus pais trabalhavam na cantina de uma faculdade e eu e minha irmã estávamos sempre junto deles. Eu vi muito trote pesado! As imagens que vi ficaram marcadas em mim! Tão marcadas que quando eu estava prestando vestibular eu tinha medo de passar na faculdade e levar um trote daqueles! A sorte foi que passei numa em que o trote é proibido. Acho um absurdo que isso aconteça até hoje e que muitas vezes esse tipo de comportamento fique imune! Meu coração fica apertado só de pensar no assunto!!! Beijos!!!

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  4. Puxa Cris, que texto sensacional!

    Quando entrei na faculdade eu não aceitei participar do trote, e, como conhecia um dos veteranos, pedi para ele me tirar da "brincadeira" pois tinha medo de me obrigarem, sim obrigarem, a ingerir bebida alcoólica, coisa que não faz parte da minha vida!

    Realmente os trotes, que deveriam ser motivo de festa e alegrias, muitas vezes se transformam em dor e desespero!

    Beijos,
    Te espero no blog Mamãe de Salto

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  5. Cris, que situação horrenda. Eu passei por dois trotes: Um foi horrível, quase desse estilo não fosse eu ter tido a sorte de ter amigos do último ano do curso que me "livraram" das humilhações. É deplorável, como se os "veteranos" achassem que a barbárie está liberada e seus lados mais obscuros viessem a tona. É importante lembrar que trotes violentos são passíveis de "punição". Procurem a reitoria da faculdade ou a polícia, se preciso. O importante é não nos omitirmos.

    www.paisqueeducam.com.br

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  6. @Mamãe de Salto por Marcella Stelle Pois é Marcella, realmente esse tipo de atitude não e brincadeira. Um momento tão especial e que pode se tornar um momento de horror. Bjs

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  7. @Pamela Greco Olá Pamela, agradeço seus comentários. Realmente os pais do rapaz entraram em contato com a reitoria da faculdade, mas foi informado de que se não há como identificar os culpados nada pode ser feito. É claro que o rapaz não vai denunciar com medo de represálias. Vamos esperar que a sociedade posso um dia fazer uma manifestação contra tanta impunidade. Bjs

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  8. @Li Olá Li, que loucura não é mesmo? Imagino que tipo de cenas você presenciou, pois só de ver fotos na internet tudo me chocou muito.
    Espero que a sociedade mude, pois há lei do tudo eu posso está mais forte a cada dia.
    Bjs

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  9. Nossa Cris, eu fiquei com o coração apertado com esse relato. Como um momento que deve ser tão especial se torna um tormento por pura ignorância e inconsequência.
    beijos
    Chris
    Inventando com a Mamãe

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  10. Cris, que coisa... fiquei chocada, sinceramente.
    Eu estudei numa faculdade que não podia ser feito esse tipo de trote, o que tivemos foi padrinhos do segundo período que fizeram uma linda apresentação e no final deram uma mensagem com bombons pra cada um que pegaram como afilhados.
    No ano seguinte foi a nossa vez de fazer o "trote" do bem nos calouros, caprichamos e eles amaram.
    Beijos querida.

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