"Quando se nasce pobre, ser estudioso é o maior ato de revolta contra o sistema"
Aprendi isso aos 18 anos. Na época, filha de um motorista de ônibus e de uma dona de casa, fui trabalhar para pagar a minha faculdade de Direito, ou melhor, para financiar meu sonho.
Sonho que eu sonhava acordada, porque não tinha nem tempo para dormir. Uma jornada louca e cansativa de 5 anos, que valeu à pena. Não apenas pelo retorno financeiro, mas pela realização do sonho.
Aprendi que, apesar de parecer clichê, somos responsáveis por nossas escolhas sim e que para colher os frutos é preciso semear... sob suor, lágrimas, chuva, sol e falta de grana.
Vejam, não há demérito algum em ser pobre e o fato de estudar por si só não transforma a vida de ninguém da noite para o dia. É um processo...
O lance é que, na maioria das vezes, a pobreza não é uma escolha, mas uma condição social imposta pela sociedade desigual. E a gente sabe bem que vivemos num país com um índice de desenvolvimento humano vergonhoso.
O que acho injusto e cruel é a falta de oportunidades para todos.
Se a pessoa não quiser estudar, ok. Mas se ela quiser é necessário ter garantidas mínimas para isso.
O acesso às universidades públicas é dificílimo e às particulares são para poucos.
Então, para o pobre estudar é necessário muitas vezes, realizar um sacrifício quase desumano. Ir na cara e na coragem, na raça mesmo!
E foi isso que eu tive que fazer.
Afinal, brasileiro aprende rápido que quando a oportunidade não nasce pronta, a gente vai lá e cria.
Na faculdade convivi com muitas mães que se viravam nos 30 para concluir o curso. Algumas moravam na cidafe vizinha, outras,levavam as crianças para a sala de aula ou se revezavam cuidando delas nos corredores e até dentro dos carros no estacionamento.
Estudei com mães casadas, solteiras, gestantes e avós. Todas elas cheias de dificulfades e empecilhos, mas determinadas e focadas.
Antes de ser mãe eu não tinha a menor noção da dimensão do sacrifício que elas estavam fazendo. Hoje eu tenho.
Algumas mulheres deixam de estudar por conta de uma gestação, outras por falta de apoio familiar e muitas por não possuírem recursos financeiros. Eu não as julgo, mas quero deixar um recado de ânimo para você que deseja estudar e não vê hoje, uma luz no fim do túnel.
Não pare de caminhar, sonhar e planejar, porque em algum momento você verá a claridade. A saída só aparece para quem continua procurando por ela.
Se por algum motivo você não conseguiu realizar ainda o sonho de estudar, não desanime.
Hoje em dia as oportunidades são um pouco maiores que antigamente, com a prova do ENEM, do PROUNI, com a educação à distância...
É preciso força, determinação e fé.
Afinal, enquanto houver fôlego de vida há esperança. E a esperança é o combustível da nossa alma.
Bom final de semana!
Camila Vaz
http//: mundodepalavras@wordpress.com
2 comentários
Oi Camila!
ResponderExcluirAssim como você, na época que fiz faculdade, também não tinha ideia de como algumas mulheres que estudavam comigo e já eram mães se desdobravam para conciliar, na maioria das vezes, filhos, trabalho e estudos. E a maioria tinha essa jornada tripla e, o mais admirável, elas conseguiam "dar conta" e, algumas, ainda se destacavam, por mérito, na questão de rendimento nos estudos.
Até hoje lembro delas e as admiro. Espero que outras mulheres que, ao lerem seu texto, e estejam vivenciando esse momento, também tenham dedicação e não desistam!
Beijos,
Larissa Andrade.
http://maternidadeecotidiano.blogspot.com.br/
Lindo depoimento, Camila!! Convivi com mulheres nessa vida louca e na época eu não tinha noção do quanto devia ser dificil. Hoje me pego lembrando delas e pensando como elas conseguiam dar conta de tudo? Como se formaram com notas excelentes?! Incrivel a capacidade que temos quando queremos de verdade algo! Parabéns pela sua conquista!! Li uma vez e acredito nisso: "sonhos não tem pernas, mas você tem"! É isso aí!!
ResponderExcluirObrigado por comentar, ficamos felizes!